Convento de S. Francisco – Reportagem RTP



A intervenção Dryas no Convento de S. Francisco (Coimbra) mereceu destaque numa reportagem da RTP exibida no passado dia 18 de Dezembro. Os trabalhos de Arqueologia em curso no Convento de S. Francisco continuam a merecer a atenção pelo enorme potencial do registo arqueológico recuperado para a compreensão de numerosos aspectos da história da cidade.

O destaque da reportagem apresentada orienta-se para aquele que constitui o vestígio mais surpreendente e singular identificado no decurso da intervenção. A necrópole escavada junto à cerca norte do complexo conventual franciscano destaca-se por se tratar de um conjunto de mais de 600 inumações colectivas realizadas em duas fases diferentes nos inícios do século XIX. A população estudada, claramente seleccionada, corresponde maioritariamente a jovens adultos do sexo masculino, enterrados com os seus fardamentos, que terão perecido subitamente num curto espaço de tempo num hospital militar.

A reportagem dá um claro destaque ao potencial da presente amostra para a compreensão de um episódio específico da Guerra Peninsular: o polémico massacre não comprovado dos soldados franceses hospitalizados após a retirada para sul das tropas de Massena.

Porém, se as evidências arqueológicas poderão servir para derramar alguma luz sobre episódios marcantes relatado nas fontes, a sua maior virtude consistirá em dar voz aos relatos silenciados destes períodos de guerra. Histórias jamais contadas de eventos e pessoas marginalizados da construção da memória colectiva e que permitem acrescentar aos grandes factos históricos a dimensão humana que lhes subjaz.

Com este objectivo, a intervenção Dryas baseou-se na implementação pioneira de diversos protocolos rigorosos de registo das evidências arqueológicas não só no âmbito da arqueotanatologia, mas também da arqueologia do edificado (incluído registo laserscanner 3D, programa de datação por OSL e de análise micromorfológica de materiais construtivos), arqueoestratigrafia, geoarqueologia e acompanhamento arqueológico.

No momento em que ainda decorrem trabalhos de monitorização arqueológica dos trabalhos de engenharia, delineiam-se já os principais vectores de orientação da investigação arqueológica sobre o convento.

A análise integrada e transdisciplinar do registo recuperado privilegiará:
– a análise histórico-arqueológica do registo arqueológico à luz das principais fontes escritas, iconográficas, cartográficas disponíveis para o local, desde a construção do convento;
– o estudo paleobiológico dos indivíduos inumados, com especial atenção às lesões traumáticas, bem como o estudo da mobilidade através da análise de isótopos;
– a implementação de um programa de datações sobre a necrópole, o edifício e outros contextos arqueológicos associados;
– a leitura sincrónica e diacrónica do edifício, análise de materiais e técnicas construtivoscom vista à sua caracterização arquitectónica;
– a integração do registo arqueológico recuperado nas narrativas históricas acerca da cidade e das principais convulsões político-militares da primeira metade do século XIX. 

Link para a reportagem da RTP



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